Texto 3 - "Desempregado, sim, Desocupado, não"


A iniciativa pode criar ocupações produtivas quando o mercado formal se fecha. Iara Biderman

Para quem ainda acha que ter trabalho é ter emprego, a explicação de Verônica Sá, 18 anos, é curta e clara: “Trabalho é tentar se organizar de forma criativa para atuar economicamente na sociedade”. Com isso, ela demonstra que há pelo menos uma parte da juventude brasileira que não é apenas produto (ou vítima) da era do “fim do emprego”.

Jovens como Verônica também consideram-se agentes, com direito de optar e criar novas formas de trabalho, nas quais a atividade profissional também proporcione conhecimento e prazer. Parece discurso de quem tem ótimas condições econômicas e, teoricamente, não são pressionados pela necessidade de ganhar dinheiro. Mas, para a socióloga Lívia de Tommasi, coordenadora do projeto Rede de Juventude, que atua no Nordeste do Brasil, a separação entre trabalho e emprego e a visão de que trabalho deve proporcionar prazer é comum aos jovens de todas as camadas sociais, mesmo as mais pobres. “Eles querem trabalho, sim, não só por causa da necessidade do dinheiro, mas também para crescimento pessoal. Quando peço para que definam trabalho com uma palavra, um adjetivo, o que ouço muito é ‘prazer’, ‘satisfação’, ‘compromisso’.

Por que a gente tem de trabalhar?

Muita gente acha que é para ter uma participação ativa na sociedade. E acredi
ta nos princípios do trabalho solidário como uma nova forma de participar, de intervir no meio em que vivemos, na comunidade. É o que Verônica Sá pensa e faz: no grupo Conexão Solidária, do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, ela aplica os seus princípios. Estudante de relações públicas, acha que a faculdade que cursa está muito voltada para a área empresarial, e procura, em seu trabalho, romper com as barreiras.

Por que a gente tem de trabalhar? Para ter uma participação economicamente ativa na sociedade. O trabalho solidário é uma nova forma de participar”, diz.

Para Verônica, o Conexão é um espaço onde ela pode fazer o que gosta, da maneira que acredita ser a melhor. Esse prazer no que faz a ajuda a encarar horários extras aos sábados, domingos, às vezes, noite adentro. “Meu trabalho e minha vida pessoal estão misturadíssimos, não sei onde começa um
e termina o outro”, diz. Essa mistura é típica dos jovens que podem estar desempregados, mas nunca desocupados.

Operário da criação

Conciliar períodos de muito trabalho com épocas de quase nada também é comum. “Meu trabalho é prazeroso, mas há momentos em que me sinto um operário, tenho de criar e produzir direto. Mas também, quando quero, fico em casa. 0 emprego formal m
e impediria isso”, diz o artista plástico Roberto Carlos Pereira, o Bessa, de 25 anos, que tem um ateliê de bonecos na cidade de Olinda, em Pernambuco. Bessa conta que tirou sua carteira de trabalho aos 16 anos, mas nunca a usou. “Só entraria em um emprego se fosse algo em que acreditasse”.

E se não for artista?

Nem todo mundo vai ser artista, nem este pode ser o único caminho. Porém
, um misto de trabalho solidário, criativo e de qualidade pode ser um ótimo caminho. O coletivo Êxitos D'Rua, de Recife, por exemplo, aproveita o talento dos jovens para criar oportunidades de trabalho. Utiliza técnicas de grafitagem, por exemplo, para produzir camisetas, capas de CD, ou para anunciar shows. Com isso, seus jovens e criativos trabalhadores também podem manter uma loja solidária, onde cada um coloca os seus produtos de forma que todos possam comprá-los.

Extraído da revista Onda Jovem – Ano I, no 2, jul/05 Instituto Votorantim


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